Fabricantes reduziram os estoques com a pandemia e a rápida retomada dos negócios pegou muita gente de surpresa. Resultado: os preços subiram.

 

A redução da oferta de materiais, por causa da pandemia, aumentou o custo da construção civil no Brasil.

No início da pandemia, o professor de arquitetura Rafael Teixeira decidiu reformar o apartamento. Queria transformar a sala e a varanda num único espaço.

“Em outubro, quando fechei, levei um susto: 30% de aumento no orçamento que eu tinha feito em maio. Então, eu falei: ‘Vou fazer agora porque o preço vai tender a aumentar mais ainda.’”

Mas pouco depois, a obra teve que ser interrompida. Faltou o básico. As lojas de material não tinham vidro temperado nem perfil de alumínio para fechar a varanda.

“Eu não posso terminar o piso se eu não estiver com a cortina de vidro, porque vai chover, vai estragar. Uma etapa seguindo a outra”, lamenta.

O presidente da Câmara Brasileira da Construção Civil, José Carlos Martins, diz que o desabastecimento afetou obras em todo o país.

Fabricantes reduziram os estoques com a pandemia e a rápida retomada dos negócios pegou muita gente de surpresa. Resultado: os preços subiram.

“A inflação do material de construção, de janeiro a novembro, está em 17,7%. Nenhum período desde o Plano Real teve um aumento dessa magnitude”, diz José Carlos Martins.

A obra de um edifício na Zona Sul do Rio, por exemplo, teve que lidar com a disparada de preços de materiais de construção durante a pandemia. De maio a dezembro, o cimento aumentou 45% e o aço foi reajustado em 86%. Além disso, fornecedores pediram mais tempo para entregar produtos que estão em falta no mercado.

“O aço que a gente pedia e chegava em torno de dez dias, se a gente pedir hoje, agora em dezembro, ele só vai chegar em fevereiro”, afirma Daniel Afonso, diretor de construtora.

Mesmo faltando tubos de PVC, cimento e até areia, a construção civil foi o setor que mais gerou empregos no país este ano. Mas as atividades ainda estão 36% abaixo do pico observado em 2014.

“Imagine uma empresa que está lançando empreendimento hoje. Ela vai entregar daqui dois anos. Qual é o preço que ela vende, porque ela vai ter que absorver essas variações? Então, o que ela faz? Ela não faz. Ela não lança, não gera um novo empreendimento. O problema até pouco tempo era grave. Hoje é gravíssimo, porque ele leva para expectativa futura”, afirma José Carlos Martins.

 

Fonte: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/12/19/reducao-da-oferta-de-materiais-por-causa-da-pandemia-aumenta-custo-da-construcao-civil.ghtml